sábado, 13 de dezembro de 2008

Do site da revista Caros Amigos : Uma demissão que fere a democracia

Uma demissão que fere a democracia

A reitora da USP, Suely Vilela, demite diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade. Uma ilegalidade no mínimo.

Gabriela Laurentiis e Rui Tresso

Chega o fim do ano. Na Universidade de São Paulo, USP, poucos estudantes podem ser vistos. Nesse momento a reitora Suely Vilela anuncia a demissão de Claudionor Brandão, funcionário da universidade há 21 anos, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP, Sintusp, e representante dos trabalhadores no Conselho Universitário.

Em 21 de setembro de 1987 Brandão começou a trabalhar na USP como técnico de refrigeração e ar condicionado. Menos de um ano depois, em 20 de agosto de 1988, se envolveu com a luta pela defesa dos direitos dos trabalhadores. Brandão explica que “foi durante a preparação de uma greve na universidade”.

No documento divulgado pelo Sintusp, os trabalhadores explicam que ‘’é natural que a demissão ocorra no mês de dezembro, já que é o mês de férias”, e se revoltam:
“Isso nos remete aos piores momentos da ditadura militar.”

O professor Ruy Braga, do departamento de história, afirma que “a demissão representa um claro ataque ao movimento sindical brasileiro”.

Claudionor Brandão tem grande importância para a universidade, Ruy Braga diz que “ele é uma das mais destacadas lideranças sindicais da USP”. Brandão merece o respeito e a confiança de funcionários, professores e estudantes.

Exatamente por seu prestigio e sua grande atuação, Brandão se tornou uma figura “perigosa” para a universidade, e no dia 9 de dezembro foi informado de sua demissão. A acusação principal é que teria participado de uma “invasão” da biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP durante a greve de 2005.

O que a reitoria classificou como invasão o funcionário entende como “um ato legitimo”. No qual ele, junto com outros trabalhadores da USP, entrou na biblioteca da FAU, para conversar com os funcionários e convocar para a greve.

Brandão explica que “o diretor da faculdade acusou ele e os outros funcionários de colocar em risco os trabalhadores e o acervo da biblioteca”.

Ruy Braga se revolta:
“Na verdade trata-se de uma política que busca criminalizar os movimentos sociais. Essa política, anti-sindical e antidemocrática, foi muito adotada durante o governo de FHC, e agora foi retomada por Serra.”

Flavia Vale, estudante do curso de ciências, diz que “a demissão é um ataque à categoria de trabalhadores da USP e seu sindicato”.

Claudionor Brandão luta desde 1988 pela construção de uma universidade pública, gratuita e de qualidade no Brasil. A partir de 9 de dezembro estudantes, trabalhadores e intelectuais vêm se posicionando contra a demissão de Brandão e organizando campanhas pela readmissão imediata. Como a assembléia realizada pelo Sintusp, dia 10, na qual os trabalhadores votaram paralisação na terceira-feira, 16 de dezembro, e um abaixo-assinado que já conta com apoio de pessoas por todo o país e no exterior. Entre eles estão os professores Franklin Leopoldo e Silva, da faculdade de Filosofia da USP; Ricardo Antunes, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp; e Régis Michel, conservador-chefe do Departamento de Artes Gráficas do Museu Louvre na França. Também assinaram organizações internacionais como o Sindicato de los Trabajadores de Luz y Fuerza de La Paz (Bolívia) e Asociación de Profesores Universitarios del Hospital Larcade de San Miguel (Argentina).

A assessora de imprensa da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, logo após a demissão, ligou para o sindicato e informou que o ministro Paulo Vannucchi se diz “preocupado com a situação e pediu para ser informado de todos os fatos”.
Como diz Brandão “a demissão não é um ataque individual e sim, uma tentativa por parte da reitoria de neutralizar as movimentações na universidade”.

A reitoria passa um recado para funcionários, estudantes e professores: não serão aceitas medidas que abalem a “paz” e a “normalidade” da universidade. “A demissão de Brandão, por motivos políticos, fere os direitos democráticos da livre manifestação sindical”, diz a estudante Flavia Vale.


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