quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Entrevista com Brandão - site PCO
Entrevista
A USP é uma ditadura: “A burocracia universitária despreza os funcionários e sequer reconhece o direito de que eles tenham sindicato”
O companheiro Claudionor Brandão, diretor do SINTUSP - Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Estadual de São Paulo - falou ao Causa Operária sobre sua demissão e os ataques ao Sindicato e da luta contra as demissões na USP e em todo o País14 de dezembro de 2008
Causa Operária - A quanto tempo você trabalha na USP e quais as atividades que desempenhava como funcionário e como militante sindical?
Claudionor Brandão - Ingressei na USP há 21 anos, sou mecânico de refrigeração. Participei ativamente de todas as lutas dos funcionários nos últimos anos e, pela terceira vez, participo da diretoria do SINTUSP. Fui eleito pelos funcionários para integrar o Conselho Universitário.
Causa Operária - Na USP e nas demais universidade públicas há uma enorme onda repressiva contra a juventude e os funcionários por parte da burocracia universitária, qual o pretexto da reitoria para sua demissão?
Brandão - Montaram um processo fajuto iniciado pela direção da FAU [Faculdade de Arquitetura e Urbanismo], cujo antigo diretor, que iniciou o processo, agora é secretário do Serra. A principal acusação é a de que eu teria, em 2005, invadido a biblioteca da FAU à frente de estranhos, feito ameaças aos funcionários, colocado em risco o patrimônio e o acervo da biblioteca e ainda desacatado o diretor da Faculdade.
Causa Operária - O que de fato aconteceu?
Brandão - Estávamos em greve e eu pertencia ao Comando de Greve da categoria. O diretor da FAU agia como se fosse dono da Faculdade e agia em clara coação para que os servidores não participassem da greve decidida pela categoria, como foi denunciado por vários companheiros. Ele decidiu que ia manter a biblioteca aberta, sem respeitar a opinião dos funcionários. Junto com diretores do Sindicato reunimos os funcionários da FAU que, por unanimidade, decidiram que a biblioteca devia ser fechada. Foi formada uma comissão, da qual eu fazia parte e nos dirigimos à biblioteca, junto com algumas dezenas de funcionários para conversar com os poucos trabalhadores que ainda estavam lá sob coação do diretor.Todo o resto é pura provocação e invenção do diretor.
Causa Operária - Foi o único processo contra você por parte da administração da USP?
Brandão – Não, são três processos encadeados. O primeiro é de 2000. Neste ano, um grupo de fura-greves, reunidos pela reitoria de diversos restaurantes, um punhado de cada lugar; na tentativa de fazer funcionar o Restaurante da Física. Os trabalhadores realizavam uma passeata para pressionar pelo fechamento do Restaurante e pela adesão à greve.Eles lançaram a acusação de que teriam jogado amônia no local para forçar a saída dos que furavam a greve e me apontaram como o responsável pelo ocorrido, instaurando um processo contra mim. O procurador responsável concluiu que não foi possível provar a minha participação (sequer conseguiram provar que eu estivesse nas proximidades no momento do ocorrido), mas aí apontou a necessidade de que eu fosse punido por ter "concorrido" para o que aconteceu. Tomei cinco dias de suspensão. Em 2006, outro processo. Uma empresa terceirizada que prestava serviço na Faculdade de Educação realizou cerca de 100 demissões e cometia uma série de irregularidades contra os seus empregados, que trabalhavam em péssimas condições, ao ponto de serem forçadas a fazerem suas refeições no banheiro porque a chefia não deixava que almoçassem no Restaurante da Faculdade. Organizamos uma mobilização na qual participavam uma maioria de mulheres e estava marcada uma negociação na Reitoria. Eles tentaram impedir o Sintusp de representar os funcionários, trazendo uns pelegos, diretores de um Sindicato de Trabalhadores no Asseio, SIemaco, com um monte de bate-paus, que vieram nos agredir e tentar impedir que participássemos da reunião. Fomos violentamente agredidos e os seguranças da Reitoria fecharam as portas para que não entrássemos. Já muito machucados tivemos que forçar a entrada, até por uma questão de segurança diante das agressões. Alguns vidros foram quebrados. O Sintusp chegou até a pagar pelas vidraças, mas de novo nos processaram e tomei uma suspensão de vinte dias, sob a alegação de que estaria "defendendo interesses estranhos aos dos funcionários da USP" e desta forma cometendo um "desvio de minha função sindical". É uma ditadura em que eles querem dizer até qual é a nossa função.
Causa Operária - E o terceiro é esse que resultou na demissão?
Brandão - Isso mesmo. Em 2005, depois de intensa pressão de estudantes, funcionários e professores, conseguimos que a ALESP [Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo] aprovasse um pequeno aumento no orçamento das universidades estaduais. O então governador Alckmin vetou este aumento e iniciamos uma mobilização.
Causa Operária - Há outros companheiros do Sintusp sendo processados?
Brandão – Sim, há vários diretores como o Aníbal, Zelito, companheiros do Interior como o Germano, de São Carlos e o Osni, de Piracicaba, vários ex-diretores que também respondem processos.
Causa Operária - Trata-se da violação da liberdade de organização sindical. Há também um processo contra o Sindicato?
Brandão - É, por supostos danos causados na ocupação da reitoria de 2007, em que estamos sendo sentenciados a pagar mais de R$ 360 mil, em um aberto ataque à nossa organização sindical. A burocracia universitária despreza os funcionários e sequer reconhece o direito de que eles tenham sindicato, acham que é um absurdo ter um sindicato dos trabalhadores da USP. Querem abrir caminho para novos ataques que vão ficar cada vez mais duros diante do agravamento da crise que estamos vendo.
Causa Operária - As demissões só podem ser barradas por meio da mobilização dos trabalhadores. Quais as propostas que vocês têm para essa luta?
Brandão - Sabemos que sem mobilizar é impossível barrar as demissões. Estamos realizando assembléias e foi aprovada uma paralisação no dia 16, com ato em frente à Reitoria. Nesse dia acontece a reunião do Conselho Universitário que vai deliberar sobre o orçamento da USP para 2009. Em uma primeira assembléia na prefeitura com centenas de trabalhadores, logo após o comunicado da minha demissão, houve a proposta de greve por tempo indeterminado, mas entendemos que enfrentamos neste momento dificuldades objetivas para uma mobilização de maior envergadura: estamos no fim do ano e há uma grande dispersão, a USP fecha no próximo dia 19, a maioria dos estudantes já estão de férias e temos pouco tempo, agora, para uma mobilização interna. A Universidade reabre no dia 5 de janeiro mas apenas com uma parte dos trabalhadores, já que 60% deles têm férias em janeiro.
Causa Operária - O PCO defendeu no ato uma ampla mobilização que extrapole os muros da USP, a realização de uma campanha nacional contra sua demissão e contra as demissões em geral, como você vê esta proposta?
Brandão - Estamos plenamente de acordo com realizar uma campanha nacional, de buscar uma frente para lutar, estamos cobrando da Conlutas e temos em mente que não se trata da defesa isolada, da luta apenas contra minha demissão, achamos que é necessária uma frente única de luta dos que estão contra as demissões. Propusemos também um encontro regional aqui em São Paulo para juntar forças e lutar contra todas as demissões.
Fonte: http://www.pco.org.br/conoticias/imprimir_materia.php?mat=11158
A USP é uma ditadura: “A burocracia universitária despreza os funcionários e sequer reconhece o direito de que eles tenham sindicato”
O companheiro Claudionor Brandão, diretor do SINTUSP - Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Estadual de São Paulo - falou ao Causa Operária sobre sua demissão e os ataques ao Sindicato e da luta contra as demissões na USP e em todo o País14 de dezembro de 2008
Causa Operária - A quanto tempo você trabalha na USP e quais as atividades que desempenhava como funcionário e como militante sindical?
Claudionor Brandão - Ingressei na USP há 21 anos, sou mecânico de refrigeração. Participei ativamente de todas as lutas dos funcionários nos últimos anos e, pela terceira vez, participo da diretoria do SINTUSP. Fui eleito pelos funcionários para integrar o Conselho Universitário.
Causa Operária - Na USP e nas demais universidade públicas há uma enorme onda repressiva contra a juventude e os funcionários por parte da burocracia universitária, qual o pretexto da reitoria para sua demissão?
Brandão - Montaram um processo fajuto iniciado pela direção da FAU [Faculdade de Arquitetura e Urbanismo], cujo antigo diretor, que iniciou o processo, agora é secretário do Serra. A principal acusação é a de que eu teria, em 2005, invadido a biblioteca da FAU à frente de estranhos, feito ameaças aos funcionários, colocado em risco o patrimônio e o acervo da biblioteca e ainda desacatado o diretor da Faculdade.
Causa Operária - O que de fato aconteceu?
Brandão - Estávamos em greve e eu pertencia ao Comando de Greve da categoria. O diretor da FAU agia como se fosse dono da Faculdade e agia em clara coação para que os servidores não participassem da greve decidida pela categoria, como foi denunciado por vários companheiros. Ele decidiu que ia manter a biblioteca aberta, sem respeitar a opinião dos funcionários. Junto com diretores do Sindicato reunimos os funcionários da FAU que, por unanimidade, decidiram que a biblioteca devia ser fechada. Foi formada uma comissão, da qual eu fazia parte e nos dirigimos à biblioteca, junto com algumas dezenas de funcionários para conversar com os poucos trabalhadores que ainda estavam lá sob coação do diretor.Todo o resto é pura provocação e invenção do diretor.
Causa Operária - Foi o único processo contra você por parte da administração da USP?
Brandão – Não, são três processos encadeados. O primeiro é de 2000. Neste ano, um grupo de fura-greves, reunidos pela reitoria de diversos restaurantes, um punhado de cada lugar; na tentativa de fazer funcionar o Restaurante da Física. Os trabalhadores realizavam uma passeata para pressionar pelo fechamento do Restaurante e pela adesão à greve.Eles lançaram a acusação de que teriam jogado amônia no local para forçar a saída dos que furavam a greve e me apontaram como o responsável pelo ocorrido, instaurando um processo contra mim. O procurador responsável concluiu que não foi possível provar a minha participação (sequer conseguiram provar que eu estivesse nas proximidades no momento do ocorrido), mas aí apontou a necessidade de que eu fosse punido por ter "concorrido" para o que aconteceu. Tomei cinco dias de suspensão. Em 2006, outro processo. Uma empresa terceirizada que prestava serviço na Faculdade de Educação realizou cerca de 100 demissões e cometia uma série de irregularidades contra os seus empregados, que trabalhavam em péssimas condições, ao ponto de serem forçadas a fazerem suas refeições no banheiro porque a chefia não deixava que almoçassem no Restaurante da Faculdade. Organizamos uma mobilização na qual participavam uma maioria de mulheres e estava marcada uma negociação na Reitoria. Eles tentaram impedir o Sintusp de representar os funcionários, trazendo uns pelegos, diretores de um Sindicato de Trabalhadores no Asseio, SIemaco, com um monte de bate-paus, que vieram nos agredir e tentar impedir que participássemos da reunião. Fomos violentamente agredidos e os seguranças da Reitoria fecharam as portas para que não entrássemos. Já muito machucados tivemos que forçar a entrada, até por uma questão de segurança diante das agressões. Alguns vidros foram quebrados. O Sintusp chegou até a pagar pelas vidraças, mas de novo nos processaram e tomei uma suspensão de vinte dias, sob a alegação de que estaria "defendendo interesses estranhos aos dos funcionários da USP" e desta forma cometendo um "desvio de minha função sindical". É uma ditadura em que eles querem dizer até qual é a nossa função.
Causa Operária - E o terceiro é esse que resultou na demissão?
Brandão - Isso mesmo. Em 2005, depois de intensa pressão de estudantes, funcionários e professores, conseguimos que a ALESP [Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo] aprovasse um pequeno aumento no orçamento das universidades estaduais. O então governador Alckmin vetou este aumento e iniciamos uma mobilização.
Causa Operária - Há outros companheiros do Sintusp sendo processados?
Brandão – Sim, há vários diretores como o Aníbal, Zelito, companheiros do Interior como o Germano, de São Carlos e o Osni, de Piracicaba, vários ex-diretores que também respondem processos.
Causa Operária - Trata-se da violação da liberdade de organização sindical. Há também um processo contra o Sindicato?
Brandão - É, por supostos danos causados na ocupação da reitoria de 2007, em que estamos sendo sentenciados a pagar mais de R$ 360 mil, em um aberto ataque à nossa organização sindical. A burocracia universitária despreza os funcionários e sequer reconhece o direito de que eles tenham sindicato, acham que é um absurdo ter um sindicato dos trabalhadores da USP. Querem abrir caminho para novos ataques que vão ficar cada vez mais duros diante do agravamento da crise que estamos vendo.
Causa Operária - As demissões só podem ser barradas por meio da mobilização dos trabalhadores. Quais as propostas que vocês têm para essa luta?
Brandão - Sabemos que sem mobilizar é impossível barrar as demissões. Estamos realizando assembléias e foi aprovada uma paralisação no dia 16, com ato em frente à Reitoria. Nesse dia acontece a reunião do Conselho Universitário que vai deliberar sobre o orçamento da USP para 2009. Em uma primeira assembléia na prefeitura com centenas de trabalhadores, logo após o comunicado da minha demissão, houve a proposta de greve por tempo indeterminado, mas entendemos que enfrentamos neste momento dificuldades objetivas para uma mobilização de maior envergadura: estamos no fim do ano e há uma grande dispersão, a USP fecha no próximo dia 19, a maioria dos estudantes já estão de férias e temos pouco tempo, agora, para uma mobilização interna. A Universidade reabre no dia 5 de janeiro mas apenas com uma parte dos trabalhadores, já que 60% deles têm férias em janeiro.
Causa Operária - O PCO defendeu no ato uma ampla mobilização que extrapole os muros da USP, a realização de uma campanha nacional contra sua demissão e contra as demissões em geral, como você vê esta proposta?
Brandão - Estamos plenamente de acordo com realizar uma campanha nacional, de buscar uma frente para lutar, estamos cobrando da Conlutas e temos em mente que não se trata da defesa isolada, da luta apenas contra minha demissão, achamos que é necessária uma frente única de luta dos que estão contra as demissões. Propusemos também um encontro regional aqui em São Paulo para juntar forças e lutar contra todas as demissões.
Fonte: http://www.pco.org.br/conoticias/imprimir_materia.php?mat=11158
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